quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ídolos de vidro



    Certa vez me disseram que uma das coisas mais importantes para a construção do nosso pensamento são as referencias que adquirimos ao longo dos anos. Entre essas referencias estão livros, filmes, conversas, debates, e, é claro, nossos ídolos.
    Estes últimos, na maior parte das vezes, são vistos como deuses, seres intocáveis, que servem como modelo de vida. Podem ser provenientes da música, cinema, novelas, livros, etc. Mas podem ser também seres mais próximos a nós, como colegas, pais, mães, tios. E, porque não, podem ser compostos de entidades como prefeitura, escola e posto de saúde.
    Entre as experiências mais dolorosas para os seres humanos, exclui-se dessa lista os seres que estão previamente preparados para lidar com essa situação, está a desmistificação da figura do ídolo. Ou seja, é de extrema dor para o fã, quando seu ídolo se mostra diferente da imagem construída, principalmente quando o fã é agredido física ou verbalmente pelo ser que tanto idolatra.
    Posso falar isso, pois presenciei o desabafo de uma mulher, que no auge da sua dor, se lamentava pela ruptura da imagem platônica do ídolo.
    Aconteceu em uma pequena cidade do interior do Paraná. Aqui chamaremos de Palestina (sem referencias aos nossos irmãos do Oriente Médio, apenas pela similaridade sonora entre os nomes). Presenciei o choro desesperado de uma senhora, cujo ídolo principal é o prefeito atual e os órgãos públicos por ele coordenados. O choro provocado pela humilhação, pelo desprezo e pelo descaso que seus ídolos atiraram nela sem nenhum ressentimento.
    O choro desconsolado de quem necessita e procura ajuda, porém é desprezado pelas pessoas que mais admira. O choro causado pela indiferença perante a necessidade pública, perante a solidão de quem não tem mais com quem contar.
    Termino esse post com um trecho retirado do livro “O Advogado do Diabo” do escritor australiano Morris West. Recomendo o livro a todos.

    “Não é novidade alguma a gente ser solitário. Isso ocorre com todos nós, mais cedo ou mais tarde. Os amigos morrem, os membros de nossa família morrem. Amantes e maridos também. Ficamos velhos, doentes. A última e maior solidão é a morte, com que agora me defronto. Não existe pílula alguma que a cure. Não existe fórmula mágica que a afaste. É uma condição a que os homens não podem fugir. Se procurarmos afastar-nos dela, acabaremos num inferno ainda mais tenebroso: nós próprios. Mas se a enfrentarmos, se nos lembrarmos de que existem milhões de outras pessoas como nós... se procurarmos estender-lhes a mão e confortá-las, e não a nós próprios, acabamos por ver, no fim, que não estamos mais sozinhos. Estamos no seio de uma nova família, a família humana, cujo pai é Deus Todo-Poderoso...”
Morris West (1959, p. 173-174)

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