Mudanças dão muito trabalho, mas nos trazem boas lembranças. Enquanto empacotava minhas coisas encontrei um tesouro. Entre revistas, papéis e bibelôs perdidos estava uma caixa de sapato, velha, confesso, mas cujo conteúdo é de uma riqueza profunda.
As recordações de uma adolescente podem ser mais interessantes do que muitos pensam. E eu reencontrei as minhas. Entre as lembranças (que não vem ao caso expor) encontrei um texto meio maluco cujo autor eu já esqueci quem é, mas gostei dele e vou reproduzir para vocês.
Então deliciem-se com o texto e vivam uma pequena parcela da minha adolescência.
Memórias de um louco
Era meia noite, o sol brilhava no horizonte de um lindo dia chuvoso.
Um velho negro com sua cabeleira loira, sentado de pé em um banco de pedra feito de madeira, contemplava com os olhos fechados a beleza da natureza.
Ao seu lado um cego lia um jornal sem letras e de cabeça para baixo. Na sua frente um paralítico corria com as lesmas em uma estrada deserta e sem fim enquanto lia as placas: “Pare! Fim da estrada!”, na velocidade de 10 cm/h.
Pouco adiante um elefante descansava sobre a sombra de um pé de alface. À direita um mudo calado dizia: o mundo é uma grande bola quadrada que navega em uma poça de areia.
Longe dali havia um bosque sem árvore no qual os passarinhos pastavam alegremente pelo ar e as vacas pulavam de galho em galho à procura de seus ninhos.
E de seu lado sentado em um banco de pedra feiro de madeira um careca, enquanto penteava sua juba, dizia: “Os quatro profetas do mundo eram 3. Moisés e Elias!”
Era meia noite, o sol brilhava entre as trevas de um dia claro que não parava de chover. Sentado de pé em um banco de pedra feito de madeira, calado dizia: “Prefiro a morte do que perder a vida!”